sexta-feira, 28 de outubro de 2011

ENTREVISTA COM ALUNOS DA EJA

Aluno: Josima  Ferreira da Silva
 
Acervo pessoal de Regiane Dourado

1. Por qual motivo você precisou parar de estudar?
Eu sempre trabalhei na roça, pois gostava muito, eu sou do Piauí, mas meus pais nunca me impediram de estudar, é que eu nunca dei pros estudos, não conseguia aprender as coisas, então, preferi trabalhar na roça e ajudar em casa.
Quando adulto também já fiz algumas tentativas nos estudos, mas nunca dava certo, pois sempre trabalhei das 14Hs as 22Hs, o meu patrão exigia que a gente fizesse horas extras e as vezes eu estava cansado mesmo.

2. Naquela época você estudou até que série?
Acho que até a 1ª série

3. Ao longo da sua vida você se sentiu descriminado por não ter os estudos completo?
Sim e muito, as vezes você precisa fazer alguma coisa e você mesmo diz “ah! Não vou fazer não”, então você se sente inferior, por isso eu me volto para estudar, pra aprender alguma coisa, eu preciso ler bem...

4. O que fez você retornar a escola?
Eu sofri um acidente no serviço em 2008, estava enchendo a laje e cai, quebrando os dois braços, desde então estou afastado, talvez eu volte para o serviço, ainda não sei, mas estou pensando se eu voltar, não poderei fazer a mesma função, então preciso dos estudos para ir trabalhar no almoxarifado ou escritório, não sei.

5. Você acha adequado o material usado em sala de aula?
Sim, eu gosto muito das matérias que a professora passa na lousa e do livro

6. Já pensou em desistir, em parar. Por quê?
As vezes fico desanimado em casa e meus filhos sempre estão em cima, “pai o senhor não vai pra escola hoje?”, e o fato de deixá-los em casa, me desanima as vezes ,até agora estava falando com eles no celular pra ver se está tudo bem.

7. O que você acha da sua professora?
Quando tinha a outra professora aqui eu não gostava não, mas essa professora aí ela boa com a gente, sempre tem paciência pra nos ensinar.

8. Quais são as dificuldades para se manter em sala de aula?
Olha eu já tentei umas três vezes e essa é minha quarta vez, tenho muita dificuldade para escrever, ler eu consigo ler alguma coisa, ir no banco, mas  o que mais me atrapalha é a leitura.


- Josima é um jovem senhor que está na expectativa de ter que voltar a trabalhar e por esse motivo está na EJA.



Aluno: Reginaldo Honorato dos Santos 

Acervo pessoal de Regiane Dourado

1. Por qual motivo você precisou parar de estudar?
Nasci na roça, nessa época meus pais eram pobres, era muito sacrifício, pois somos em 13 irmãos, precisei parar para poder trabalhar e ajudar em casa.

2. Naquela época você estudou até que série?
Olha não sei dizer, mas estudei pouquinha coisa, pois agora estou começando das primeiras séries.

3. Ao longo da sua vida você se sentiu descriminado por não ter os estudos completo?
Sim, o meu serviço sinto isso direto, pois vejo os colegas de serviço formarem panelinha e ficam conversando, enquanto eu fico de lado, pois não tenho estudo.

4. O que fez você  retornar a escola?
Então eu sinto a necessidade de poder fazer minhas coisas sozinho, ir ao banco, hoje já consigo ler o ônibus e mais algumas coisas.

5. Você acha adequado o material usado em sala de aula?
Sim,  o livro é bem interessante, tem coisas que acontece no nosso dia a dia e isso ajuda muito e a professora é muito esforçada, eu gosto muito dela.

6. Já pensou em desistir, em parar. Por quê?
Olha eu já tentei  quatro ou cinco vezes, e sempre desistia por causa do serviço, pois trabalhava em um horário complicado, agora eu trabalho das 6h as 14hs, então quando chego do serviço, vou para casa, descanso um pouco e depois venho para cá.

7. O que acha dos seus professores?
Olha ela é muito esforçada, tem paciência com a gente e sempre está presente as aulas, dificilmente ela falta.

8. Quais são as dificuldades para se manter em sala de aula?
Olha dificuldades eu tenho, mas só saio daqui quando eu conseguir terminar meus estudos.
Mas quando está chovendo ou muito frio aí eu não venho pra escola não.

O aluno Reginaldo é um senhor bem animado e confiante que conseguirá concluir  seus estudos, ele enfrenta diariamente uma rotina pesada, pois trabalha das 06hs as 14hs na Vila Mariana, zona Sul de São Paulo, acorda as 03Hs30 da madrugada e sai para o seu serviço, apesar de ter aposentado ano passado, prefere trabalhar, pois isso o mantém ativo, se ele parar, se sentirá inválido e pode se desanimar da vida, por conta de ter a idade mais avançada.




Comentário
      Ao realizar essa entrevista podemos observar que essas pessoas sofrem muito por não terem estudado, o primeiro voltou porque sofreu um acidente e não poderia fazer mais um trabalho braçal e o segundo é discriminado no serviço por não ter estudo, enfrentam muitas dificuldades ao voltar para à escola, desistem por muitas vezes por vergonha, por acharem que não vão conseguir, que a escola não é seu lugar, que estão cansados e outras necessidades que a vida exige.
     Mas podemos observar que apesar de muita luta se esforçam para estudarem mesmo apesar do cansaço, da dificuldade em aprender, da idade, não deixam que sejam negados seus direitos e sabem que precisam da escola assim a exclusão será menor,  o professor tem um papel importante nesta trajetória, pois o aluno deve ter o sentimento de pertencimento, se isso não ocorre ele acaba desistindo.  Dessa maneira é preciso perceber a importância de estabelecer uma relação para que aprendizagem seja significativa para eles que já sofrem tantas discriminações não passem por isso também na escola e muito menos por nós professores que estamos lá para que essa situação seja revertida.
    Uma questão em especial nos chamou a atenção, pois através da entrevista pudemos perceber nos entrevistados a alegação de que seu fracasso escolar é culpa deles, não percebem que o sistema é o grande culpado, tirando-lhes o direito ao estudo, obrigando-lhes a optarem pelo trabalho para assim, poderem ajudar as suas famílias financeiramente. Mas agora que estão na escola, tendo as suas dificuldades em aprender acreditam serem os culpados por tal dificuldade, não percebem que o sistema  os fazem pensar assim, os incentiva a desistirem, devemos como educadores conscientizá-los sobre como funciona esse sistema que cada vez mais cresce e as pessoas não o compreende, pois só é falado em seus benefícios mas para quem será esses beneficios?
     A partir dessas questões o professor deve partir, formando em seus alunos uma consciência crítica, mostrando a eles quem é o verdadeiro culpado pelo seu fracasso escolar, levando esses alunos a transformar a sua realidade, não permitindo que esse sistema capitalista continue a inculcar na mente deles esse sentimento de fracasso, pois se tiveram que parar de estudar para trabalhar, a culpa não foi e nem é deles!
     Foi muito gratificante conhecê-los saber das suas histórias e dificuldades para chegarem até aqui, temos que agradecer a escola por nós receber e aos alunos por serem tão gentis e atenciosos conosco.
     Portanto agradecemos a oportunidade de tal experiência que nos proporcionou entender por que e para quê estamos nos formando, queremos sim formar pessoas para AUTONOMIA e LIBERDADE.


Entrevista realizada por Fernanda Taketsuma e Karina Olveira

Um comentário:

Cemiterio Parque e Crematório Jardim da Paz disse...

NA PERGUNTA 3 O CERTO É DISCRIMINADO E NÃO DESCRIMINADO.